A dependência de metanfetamina é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, com impactos devastadores em indivíduos, famílias e comunidades. Até recentemente, não existia um tratamento farmacológico aprovado para esse vício, deixando profissionais de saúde e pacientes com opções limitadas, como terapias comportamentais que nem sempre são suficientes. No entanto, um estudo inovador publicado na revista Addiction trouxe uma luz de esperança: a lisdexanfetamina, um medicamento amplamente utilizado para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), pode se tornar a primeira farmacoterapia eficaz contra a dependência de metanfetamina.
O Estudo que Pode Mudar Vidas
Conduzido na Austrália pelo Centro Nacional de Pesquisa Clínica sobre Drogas Emergentes (NCCRED), em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa sobre Drogas e Álcool (NDARC) da UNSW Sydney, o estudo LiMA foi liderado pela Professora Nadine Ezard, uma renomada especialista em medicina de dependência. A pesquisa foi desenhada com rigor científico: tratou-se de um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, considerado o padrão ouro para avaliar a eficácia de tratamentos médicos.
Participaram do estudo 164 adultos com dependência severa de metanfetamina, todos com uso documentado da droga em pelo menos 14 dos últimos 28 dias antes do início da pesquisa. Esses participantes foram divididos em dois grupos:
- Grupo da lisdexanfetamina: recebeu o medicamento por 15 semanas, começando com uma semana de indução, seguida por 12 semanas com uma dose fixa de 250 mg/dia, e finalizando com duas semanas de redução gradual.
- Grupo placebo: recebeu uma substância inativa pelo mesmo período.

Após o tratamento, os participantes foram monitorados por mais quatro semanas. Os resultados foram impressionantes: aqueles que tomaram lisdexanfetamina reduziram o uso de metanfetamina em 8,8 dias, em média, durante as 12 semanas de manutenção, em comparação com o grupo placebo. Além disso, relataram uma percepção de eficácia 2,9 vezes maior e uma satisfação 3,8 vezes maior com o tratamento, evidenciando não apenas benefícios objetivos, mas também uma experiência subjetiva positiva.
Como a Lisdexanfetamina Age?
A lisdexanfetamina é um pró-fármaco, ou seja, uma substância que, ao ser metabolizada no corpo, se converte em dextroanfetamina, um psicoestimulante. No contexto do TDAH, ela ajuda a melhorar o foco e reduzir a impulsividade. Já no tratamento da dependência de metanfetamina, atua como uma terapia agonista, semelhante ao uso da metadona para dependência de opioides. Ao fornecer uma alternativa controlada e segura, o medicamento reduz o desejo pela metanfetamina ilícita, ajudando os pacientes a estabilizar seus padrões de uso, especialmente nas primeiras semanas de tratamento.
A Professora Ezard destacou a importância desse mecanismo: “Explorar os ‘respondedores precoces’ — aqueles que mostram benefícios logo no início — pode nos ajudar a identificar quem mais se beneficiará dessa abordagem”. Outro ponto positivo foi o perfil de segurança: mesmo em doses altas (250 mg/dia), os efeitos colaterais foram leves a moderados, como insônia ou dor de cabeça, sem eventos adversos graves inesperados.
Desafios e Limitações
Apesar dos resultados promissores, o estudo enfrentou desafios. A taxa de desistência foi de 39%, algo comum em pesquisas ambulatoriais com usuários de metanfetamina devido à instabilidade social e psicológica desse grupo. Isso reduziu a potência estatística dos resultados, mas não invalidou os achados. Ezard sugere que, enquanto mais estudos são realizados, clínicos experientes já poderiam considerar o uso off-label da lisdexanfetamina, desde que acompanhado de monitoramento rigoroso.

Além disso, o estudo foi conduzido em um contexto específico (Austrália), e mais pesquisas são necessárias para confirmar se os resultados se aplicam a outras populações, como no Brasil, onde a prevalência de uso de metanfetamina também é uma preocupação crescente em algumas regiões.
Um Novo Horizonte para Milhões
A dependência de metanfetamina é uma crise global. Só nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas usaram a droga em 2021, segundo o National Institute on Drug Abuse (NIDA). No Brasil, embora os dados sejam menos precisos, o aumento do tráfico e uso de estimulantes sintéticos tem alarmado autoridades de saúde. Os tratamentos atuais, como aconselhamento e terapia cognitivo-comportamental, ajudam, mas a ausência de uma opção farmacológica deixa uma lacuna significativa. A lisdexanfetamina pode ser o primeiro passo para preenchê-la.
Para quem busca ajuda no Brasil, o Disque Saúde (136) oferece aconselhamento gratuito e confidencial sobre dependência química. Se você ou alguém que conhece enfrenta esse problema, não hesite em ligar.
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