Cientistas estão investigando uma teoria revolucionária: a resposta protetora do cérebro a vírus comuns pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento da demência. Essa descoberta tem o potencial de mudar completamente a forma como entendemos e tratamos essa condição que afeta milhões de pessoas no mundo. Neste post, exploraremos como patógenos como vírus, bactérias e fungos podem influenciar a saúde cerebral e o que isso significa para a prevenção e o combate à demência.
A Busca por uma Causa e Cura
A pesquisa sobre demência, incluindo o Alzheimer, avança lentamente em comparação com outras áreas da medicina. Isso ocorre porque a demência se desenvolve ao longo de décadas, dificultando o estudo de seus estágios iniciais. O cérebro é um órgão complexo e denso, o que torna desafiador observar processos celulares em tempo real, mesmo com técnicas avançadas de imagem. Até agora, os estudos dependem de modelos de camundongos geneticamente modificados ou de análises de cérebros post-mortem, que revelam apenas o estágio final da doença.
O neuroengenheiro Or Shemesh, motivado pela perda de seu avô para o Alzheimer, explica: “Quando examinamos um cérebro com Alzheimer, vemos o fim do caminho. Não sabemos o que aconteceu 40 anos antes para chegar a esse ponto.” Ele trabalha entre a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade de Pittsburgh para desenvolver novas tecnologias que ajudem a entender e tratar doenças cerebrais.
Fatores Ambientais: O Papel dos Patógenos
Apenas 1-2% dos casos de Alzheimer são causados por mutações genéticas específicas. Para os outros 98%, algo mais está em jogo. Cientistas como Shemesh acreditam que vírus, bactérias e fungos podem ser os culpados. Embora o cérebro seja protegido pela barreira hematoencefálica, ela não é impenetrável. Pequenas moléculas, como nutrientes, e alguns patógenos conseguem atravessá-la.
A teoria sugere que esses patógenos desencadeiam uma resposta inflamatória no cérebro como forma de proteção. Em algumas pessoas, porém, essa inflamação pode se tornar crônica, resultando em declínio cognitivo. Em cérebros post-mortem de pacientes com Alzheimer, Shemesh encontrou placas amiloides e emaranhados de proteína tau, mas ele acredita que esses são efeitos secundários. “Algo os criou, e nós acreditamos que são os patógenos,” afirma.
Usando microscopia de expansão, Shemesh detectou o vírus herpes simplex-1 (HSV-1), responsável por herpes labial e genital, em todos os cérebros analisados. Nos pacientes com Alzheimer, o vírus estava muito mais disseminado. Isso indica que a produção de tau como resposta ao vírus pode ser benéfica a curto prazo, mas prejudicial se persistir. Outros patógenos, como o fungo Candida albicans e as bactérias Porphyromonas gingivalis (ligada a doenças gengivais) e Chlamydia pneumoniae (comum em infecções respiratórias), também foram associados à demência.
Eixo Intestino-Cérebro: Um Novo Horizonte
A ciência já estabeleceu que o microbioma intestinal influencia a saúde cerebral por meio do chamado eixo intestino-cérebro. Mas será que o próprio cérebro tem seu microbioma? Essa é uma questão em debate. Na Universidade Drexel, o microbiologista Garth Ehrlich analisou cérebros post-mortem e encontrou comunidades bacterianas em todos os 130 casos estudados. Cérebros saudáveis continham a bactéria não patogênica Comamonas sp., enquanto os com Alzheimer apresentavam bactérias mais agressivas, sugerindo que a destruição de um microbioma cerebral saudável pode ser um sinal precoce de demência.
Ehrlich acredita que quanto mais infecções uma pessoa acumula no cérebro, maior o risco para sua saúde a longo prazo. Essa ideia reforça a possibilidade de que patógenos contribuam para várias doenças neurológicas, não apenas o Alzheimer.
Testes e Prevenção: Como Proteger o Cérebro
Se esses patógenos são comuns e estamos expostos a eles ao longo da vida, o que podemos fazer? O neurocientista Brian Balin sugere medidas simples, como o uso de máscaras, e defende testes regulares de sangue, saliva e swab nasal para monitorar a exposição a microrganismos. Manter um sistema imunológico forte também é essencial.
A vacinação surge como uma poderosa aliada. Estudos mostram que vacinas como Tdap (tétano, difteria e coqueluche) e Shingrix (contra herpes zoster) estão associadas a um risco reduzido de demência. Shemesh recomenda a vacinação contra herpes zoster aos 50 anos como uma possível estratégia preventiva. No Brasil, essa vacina está disponível, e seu uso pode ser um passo para proteger a saúde cerebral.

Nikki Schultek, líder da Alzheimer’s Pathobiome Initiative, propõe triagens de infecções em pacientes com queixas de memória. Embora alguns patógenos sejam difíceis de eliminar, tratamentos antimicrobianos e antivirais podem controlá-los, oferecendo esperança enquanto novas terapias são desenvolvidas.
Conclusão: Um Futuro com Mais Respostas
A descoberta de que vírus comuns podem estar ligados à demência é um marco na busca por entender e tratar essa condição. Com mais pesquisas e colaboração entre cientistas, como no Alzheimer’s Pathobiome Initiative, podemos esperar avanços na prevenção e no tratamento. A ideia de que um vírus simples, como o da herpes, possa afetar o cérebro a longo prazo pode ser inquietante, mas mais preocupante é enfrentar a demência sem opções. A ciência está avançando, e há luz no fim do túnel.

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